terça-feira, 9 de setembro de 2008

Resumo sobre "A sociabilidade do homem simples" | Janaina Brito

MARTINS, José de Souza Martins. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história da modernidade anômala. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2008.

de Janaina Madeira Brito Stange


Introdução
(Página 10) – sobre o livro
“Nessa adversidade, a questão é saber como a História irrompe na vida de todo dia. Como, no tempo miúdo da vida cotidiana, travamos o embate, sem certeza nem clareza, pelas conquistas fundamentais do gênero humano; por aquilo que liberta o homem das múltiplas misérias que o fazem pobre de tudo: de condições adequadas de vida, de tempo para si e para os seus, de liberdade, de imaginação, de prazer no trabalho, de criatividade, de alegria e de festa, de compreensão ativa de seu lugar na construção social da realidade.”

Primeira Parte
1- As hesitações do moderno e as contradições da modernidade no Brasil

(Página 18-19) – sobre a modernidade, no Brasil “inconclusa”
“A modernidade, porém, não é feita do encontro homogeneizante da diversidade do homem, como sugere a concepção de globalização. É constituída, ainda, pelos ritmos desiguais do desenvolvimento econômico e social, pelo acelerado avanço tecnológico, pela acelerada e desproporcional acumulação de capital, pela imensa e crescente miséria globalizada, dos que têm fome e sede de justiça, de trabalho, de sonho, de alegria. Fomo e sede de realização democrática das promessas da modernidade, do que ela é para alguns e, ao mesmo tempo, apenas parece ser para todos.”

(Página 26) – “Politicamente, somos de tradição liberal, mas de um liberalismo fundado nas tradições do poder pessoal e do clientelismo político, seus opostos.”

A idéia de que o popular não é um estado puro, ele porta transfigurações; Não há purezas; ele trata a modernidade pelos signos do popular;

(Página 33) – o mascarar
“Portanto, o signo do moderno, mais do que ser moderno. Este é o ponto: parecer moderno, mais do que ser moderno. A modernidade se apresenta, assim, como a máscara para ser vista. Está mais no âmbito do ser visto do que do viver.”

(Página 36) – encolhe, mas não mina de vez
“No fundo, a modernidade exacerbou o imaginário, a capacidade de fabulação, e encolheu a imaginação, a capacidade social de criar saídas e inovações para os problemas. Com isso, ampliou a capacidade social de racionalizar e justificar o injustificável.”

2- O senso comum e a vida cotidiana

(Página 52) – cotidiano
“Se a vida de todo o dia se tornou o refúgio dos céticos, tornou-se igualmente o ponto de referência das novas esperanças da sociedade. O novo herói da vida é o homem comum imerso no cotidiano. É que no pequeno mundo de todos os dias está também o tempo e o lugar da eficácia das vontades individuais, daquilo que faz a força da sociedade civil, dos movimentos sociais.”

(Página 54) – senso comum
“O senso comum é comum não porque seja banal ou mero exterior conhecimento. Mas, porque é conhecimento compartilhado entre os sujeitos da relação social. Nela o significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência. Sem significado compartilhado não há interação.”.

(Página 57) – reprodução social
“A reprodução social, lembrou Lefebvre, mais de uma vez, é reprodução ampliada de capital, mas é também reprodução ampliada de contradições sociais: não há reprodução de relações sociais sem uma certa produção de relações – não há repetição do velho sem uma certa criação do novo, mas não há produto sem obra, não há vida sem História. Esses momentos são momentos de anúncio do homem como criador e criatura de si mesmo.”

(Sobre a transformação do impossível em possível)
“Pois, é no instante dessas rupturas do cotidiano, nos instantes da invisibilidade da reprodução, que se instaura o momento da invenção, da ousadia, do atrevimento, da transgressão. E aí a desordem é outra, como é outra a criação. Já não se trata de remendar as fraturas do mundo da vida, para recriá-lo. Mas de dar voz ao silêncio, de dar vida à História.”

3- A peleja da vida cotidiana em nosso imaginário onírico

“(...) o sonho é, para o homem comum, mas do que sonhar.” (p.60)

(Página 65) – ainda sobre o moderno
“No meu modo de ver, esse desencontro é indicativo da substantiva permanência de referências estruturais comunitárias e tradicionais na base da consciência dos membros de uma sociedade como esta, que realiza de forma imperfeita e incompleta a transição para o mundo racional e moderno. O moderno é, no fundo, apenas tênue carapaça que recobre precariamente as seguranças mais profundas de relações sociais arcaicas.”

4- Apontamentos sobre a vida cotidiana e a História

(Página 85) – vida privada e vida cotidiana são categorias delicadas para a nossa peculiaridade histórica; na modernidade européia a vida cotidiana comporta uma vida privada, que no Brasil se apresente de forma diferente;

“A nossa cultura urbana carnavalesca e exibicionista não favorece o desenvolvimento amplo e profundo da vida privada, a não ser como excrescência, sobretudo porque tem a rua como ponto de reparo. Evidentemente, temos vida privada. Mas, não necessariamente vida privada como um modo de vida que defina um estilo dominante de viver. A diferença entre a rua e a casa é muito sutil em nossa cultura (...) O fato de que, no Brasil, em público as pessoas se comportem como se estivessem em casa, desde o falar alto até o uso do telefone celular como se fosse um brinco ou um anel, constitui um indício forte da precariedade da vida privada entre nós.”

(Página 90) – a cotidianidade, uma outra temporalidade; um tempo em que o homem é o que vive e não o que pensa viver; campo da ação, por isso uma noção que ligamos à vida comunitária e seus arranjos na lida com a vida;
“O tempo do homem subjugado pela coisa, tempo em conflito com o tempo do homem que subjuga a coisa. Por isso, o cotidiano se transfigura na gestação da cotidianidade. Neste novo momento, a vida cotidiana se torna um modo de viver sem estilo. É o tempo do homem sem qualidade, mergulhado numa historicidade nova, tempo do homem desencontrado consigo mesmo, que se torna produto de seu produto, transfigurado de sujeito em objeto, em contradição com as características próprias da vida privada, que é determinada pelo tempo do sujeito. Momento em que aquilo que faz não é necessariamente aquilo que pensa estar fazendo.”

(Página 94) – a cotidianidade é uma noção não-burguesa;
“Para a burguesia (e sua consciência privada) o cotidiano é irrelevante. Para os que se inquietam com os bloqueios das promessas da História, da redenção do Homem, da constituição da universalidade do homem, o cotidiano é relevante, pois é fonte desse bloqueio e lugar da busca das possibilidades da História. Não por acaso, o possível, isto é, o propriamente histórico, aparece como não residual, como não capturado pelo repetitivo. A cotidianidade não é, nem pode ser, vaga substantivação de uma adjetivo da moda (...) Ela é o momento da história que parece dominado pelo repetitivo e pelo o que não tem sentido.”

(Página 95) – “É nas tensões do vivido que tem lugar o encontro/desencontro da vida cotidiana com a vida privada, e da vida cotidiana com a História.”
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5- Excurso: As temporalidades da História na dialética de Henri Lefebvre

(Página 101) – as relações sociais sobrevivem de deferentes momentos históricos
“Porém, a lei da formação econômica-social é a lei do desenvolvimento desigual: “Ela significa que as forças produtivas, as relações sociais, as superestrutura (políticas e culturais) não avançam igualmente, simultaneamente, no mesmo ritmo histórico.”

(Página 103) – o homem reproduz e produz
“O homem age sobre a natureza na atividade social de atender suas necessidades. Constrói relações sociais e concepções, idéias, interpretações, que dão sentido àquilo faz e àquilo de que carece. Reproduz, mas também produz, insto é, modifica, revoluciona, a sociedade, base de sua atuação sobre a natureza, inclusive sua própria natureza. Ele modifica, edifica sua humanidade, agindo sobre as condições naturais e sociais de sua existência, e nesse movimento, sobre as condições propriamente econômicas.”

(Sobre a pobreza)
“A pobreza, nesta reinterpretação de Lefebvre, ganha um significado bem diverso da concepção limitada de pobreza material que era característica da época de Marx. A pobreza é pobreza de realização das possibilidades criadas pelo próprio homem para sua libertação das carências que o colocam aquém do possível.”

(Página 107) – para a transformação
“Para isso é preciso juntar os fragmentos, dar sentido ao residual, descobrir o que ele contém como possibilidade não realizada.”

Segunda Parte
1- História e Memória

(Página 117) – sobre a história Local
“A história local é certamente um momento da História, mas momento no sentido expressão particular e localizada das contradições históricas. (...) É no âmbito local que a História é vivida e é onde, pois, tem sentido para o sujeito da História.”

(Página 119) – sobre sua opção metodológica
“(...) pretende e espera trazer para as ciências sociais a realidade de um mundo ocultado pelas grandes categorias explicativas e pelas grandes abstrações, aquilo que nem sempre tem tido visibilidade no trabalho científico, o drama e a trama da sociabilidade dos simples. Há nisso uma proposta metodológica e teórica: observar a sociedade a partir da margem, do mundo cinzento daqueles aos quais as contradições da vida social deram a aparência de insignificantes e que como insignificantes são tratados pela ciência. E, no entanto, se movem....”

(Página 127) – sobre a memória
“A reconstituição histórica que incorpore os dados da memória implica em reformular a concepção de História, mediante a incorporação de outras temporalidades, diversa daquelas que marcam o tempo reconhecido da História. Mediante, também, a incorporação dos pequenos acontecimentos da vida cotidiana e a das concepções de senso comum que mediatizam a inserção do homem comum nos processos históricos. (...) A memória não é um substituto do documento escrito, mas é reveladora de realidades que não estão registradas neste tipo de documento.”

2- Por uma sociologia sensível


(Página 148) – Revolução social, que o subúrbio também faz
“Todo ato de luta contra pobreza, contra a exploração de quem trabalha, contra privação de vida e dignidade, é um ato em favor da mudança na vida, é um ato revolucionário. De modo que o novo e a inovação se põem diante da cada um de nós de diferentes modos e sob diferentes temas. A responsabilidade da História é responsabilidade de diferentes sujeitos históricos e não de um só. Portanto, as possibilidades da História e do novo não estão só nem principalmente no subúrbio, mas também estão lá, de um modo específico.”

(Página 158) – legitimidade é diferente de legalidade
“Numa sociedade em que os códigos, as leis e o direito são de inspiração iluminista e respondem a concepções européias das elites, não tendo, portanto, qualquer raiz nas tradições e na cultura do povo, e povo daqui, com o peso de uma história social singular, que teve escravidão e chibata, é previsível um grande e significativo desencontro entre legitimidade e legalidade.”

A dimensão da Luta, para Martins, surge para ser considerado, reconhecido, ouvido, incluído...de fato, para que uma política pública por exemplo, seja democratizada.

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