sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Acontece na UFES o:

II Encontro de Psicologia e questões contemporâneas
1 2 e 3 de outubro de 2008.
Universidade Federal do Espírito Santo

Programação:
Dia 01/10
8h – 9h | Recepção e Inscrição. (Auditório Manoel Vereza | CCJE)
9h – 9h30 | Abertura

9h30 – 12h30 | Apresentação Cultural com mostra de Vídeo e debate.
15h – 18h | Mesa Redonda I | Os usos da Cidade e produções de subjetividade
- Luís Antônio dos Santos Baptista | UFF
- Representante da Arquitetura Popular
- Representante do MST
- Maria Elizabeth Barros de Barros | UFES (Coordenação de Mesa)

18h | Apresentação Cultural.

Dia 02/10
09h – 12h30 | Oficinas e Fóruns
14h – 18h | Mesa Redonda II | Mídia, Arte e Cultura
- Marcia Medeiros|Diretora de TV
- Valdelino Gonçalves dos Santos Filho | Coord. do curso de Artes/UFES
- Paolette Z. Avellar | Representante do circuito cultura da região de São Pedro
- Leila Domingues | UFES (Coordenação de Mesa)

18h | Apresentação Cultural.

Dia 03/10
09h – 12h | Exibição de vídeos e discussão no Cine Metrópolis.
Prof. Dr. José Maria Coutinho | Secretaria de Cultura de Aracruz

14h – 18h | Mesa Redonda III | Movimentos de Resistência.
- Cecília Coimbra | UFF
- João José Barbosa Sana | Sec. de Segurança Pública de Vitória
- Pe. Savério Paolilo | Pastoral do Menor e Direitos Humanos
- Ana Lúcia Coelho Heckert | UFES (Coordenação de Mesa)

18h | Encerramento, Apresentação Cultural e Confraternização.

Tem se evidenciado nos mais diferentes debates contemporâneos a inseparabilidade entre os usos da cidade e a subjetividade. Propomos pensar menos em termos de seres individuais isolados (com suas personalidades ou estruturas internas) transitando pelas ruas e compondo um somatório coletivo (sociedade como somatório de indivíduos) e mais numa perspectiva que pense o humano em constante formação coletiva, cujos modos de existência são configurados quotidianamente por práticas eminentemente sociais (vetores tecnológicos, econômicos, midiáticos, legais, jurídicos, policiais, ecológicos, etc). O humano é necessariamente fabricado e modelado no registro social. Podemos dizer sinteticamente: NÓS SOMOS NOSSA CIDADE! Nossos corpos, corações, mentes e fazeres são tecidos diariamente pela mídia, nos deslocamentos pela cidade, nos usos dos espaços públicos, nas expressões artísticas, nos movimentos reivindicatórios...

Por tudo isso, consideramos de vital importância promover e ampliar as discussões sobre as imbricações “modos de existência-cidade-acessibilidade-mobilidade-subjetividade-qualidade de vida”, promovendo que tal debate seja o mais democrático possível, no respeito às diversas vozes e diferentes invenções.
Nesse sentido, nosso objetivo principal é compor conversações e parcerias com os usuários das cidades, transpassando os muros das universidades, dos poderes públicos, das instituições e até dos chamados movimentos sociais. Essencial se faz criar espaços de discussão em que se encontrem pessoas proponentes de novas composições cidades-subjetividades e que se construam parcerias de humano para humano, seja ele ambientalista, dona(o)-de-casa, acadêmico(a), técnico(a), morador(a) de periferia, sem-terra...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

João Nasceu

Galera,
Nasceu o neto de nossa primeira vovó Beth. João nasceu ontem a tarde no RJ. A mãe e o bebê estão bem. Beijo, Ana


Parabéns, Beth!
Dizem que a experiência de ser avó é muito mais gostosa do que a de ser mãe.
Se for verdade, minha cara, vc deve estar num paraíso. Pois minha experiência como mamãe está sendo maravilhosa!
Desejo tudo de bom para as 3 gerações.
bjins
Denise Coelho


Pode soltar fogos e rojões, Beth Barros!!!
Parabéns e que muitas felicidades surjam juntamente com o João!!!
Abraços!
Cleilson!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Resumo sobre "Exclusão Social e a nova desigualdade" | Janaina Brito

MARTINS, José de Souza Martins. Exclusão Social e a nova desigualdade. 3.ed. São Paulo: Paulos, 1997.

de Janaina Madeira Brito Stange


Introdução

(Página 10) – um alerta, uma responsabilidade a mais
“Como se os muitos aspectos problemáticos da realidade social estivessem à espera de quem os batizasse, lhes desse nome. E não estivessem à espera de quem lhes descobrisse os significados ocultos e ocultados, os mecanismos invisíveis da produção e reprodução da miséria, do sofrimento, das privações”.

(Página 14) – sobre a concepção de exclusão
“Por isso, rigorosamente falando, não existe exclusão: existe contradição, existem vítimas de processos sociais, políticos e econômicos excludentes; existe o conflito pelo qual a vítima dos processos excludentes proclama seu inconformismo, seu mal-estar, sua revolta, sua esperança, sua força reivindicativa e sua reivindicação corrosiva”.

(Página 16) – a exclusão como conceito, não como sentido do vivido
“O rótulo acaba se sobrepondo ao movimento que parece empurrar as pessoas, os pobres, os fracos, para fora de suas “melhores” e mais justas e “corretas” relações sociais, privando-as dos direitos que dão sentido a essas relações. Quando, de fato, esse movimento as está empurrando para “dentro”, para a condição subalterna de reprodutores mecânicos dos sistema econômico, reprodutores que não reivindiquem nem protestem em face de privações, injustiças, carências.”

(Página18) – exclusão-pobreza
“É preciso, pois, estar atento ao fato de que, mudando o nome de pobreza para exclusão, podemos estar escamoteando o fato de que a pobreza hoje, mais do que mudar de nome, mudou de forma, de âmbito e de conseqüências”.

(Página 20) - (...)“inclusão precária e instável, marginal.”

(Página 21) – “(...) temos de admitir que a idéia de exclusão é pobre e insuficiente. Ela nos lança na cilada de discutir o que não está acontecendo exatamente como sugerimos, impedindo-nos, portanto, de discutir o que de fato acontece: discutimos a exclusão e por isso, deixamos de discutir as formas pobres, insuficientes e, ás vezes, até indecentes de inclusão”.

“A nova desigualdade separa materialmente, mas unifica ideologicamente”.

(Página 22) – a nova desigualdade
“Já as novas categorias sociais geradas pela exclusão degradam o ser humano, retiram-lhe o que é historicamente próprio – a preeminência da construção do gênero humano, do homem livre num reino de justiça e igualdade. Recobrem e anulam o potencial de transformação das classes sociais e, por isso, tendem para a direção contrária, para o conformismo, para o comportamento anticivilizado e reacionário da reoligarquização do poder, do renascimento dos privilégios de alguns como contrapartida da privação de muitos, da violência privada, da nova modalidade de clientelismo que é o clientelismo ideológico derivado da colonização do imaginário do homem comum, especialmente dos pobres, através do consumismo dirigido”.

1- O falso problema da exclusão e o problema social da inclusão marginal

(Página 25) – “(...) não existe exclusão”.
(Página 31) – sobre o Brasil
“Não podemos imaginar uma sociedade constituída de bons e maus, de algozes e vítimas, destituída de contradições, de tensões, de conflitos, de diferenças, de violências”.

(Página 32) – o capitalismo; a inclusão degradante; a população sobrante; re-integração econômica e desintegração moral; a degradação da condição humana;

“O capitalismo na verdade desenraiza e brutaliza a todos, exclui a todos. Na sociedade capitalista essa é uma regra estruturante: todos nós, em vários momentos de nossa vida, e de diferentes modos, dolorosos ou não, fomos desenraizados e excluídos. É próprio dessa lógica de exclusão e inclusão. A sociedade capitalista desenraiza, exclui, para incluir, incluir de outro modo, segundo suas próprias regras, segundo sua própria lógica”.

(Página 35-36) – no Brasil
“Mas está crescendo brutalmente no Brasil uma outra sociedade que é uma sub-humanidade: uma humanidade incorporada através do trabalho precário, do trambique, no pequeno comércio, no setor de serviços mal pagos ou, até mesmo, exclusos etc. O conjunto da sociedade já não é sociedade da produção, mas a sociedade de consumo e da circulação de mercadorias e serviços”.

(Página 37) – a resposta da sociedade; as soluções possíveis; o evidenciar as contradições; e defender contradições que não sejam insuportáveis

“Quando pensamos no alternativo, podemos ver que a população mesma está construindo a alternativa, uma alternativa includente, não uma alternativa que aprofunde o abismo com o existente, não a recusa das contradições da sociedade atual”.

2- Migrações temporárias, problemas para quem?

Aqui ele demonstra como a migração é normalmente caso de polícia, pois se vê com os olhos das classes dominantes; é situação análoga ao risco social; são visões de uma classe sobre a outra, desconhecendo as motivações singulares de quem migra; Neste sentido, as soluções que surgem são as tutelas; As ONGs tutelam (olhar estrangeiro) ou emancipam (luta)!!!! Cuidado com o olhar restarurador que vem do estrangeiro;

3- A questão agrária nos dilemas da governabilidade

A lógica de privilégios está no cerne da cultura brasileira; compõe nossa história; A mão-de-obra superante é produzida desde a Lei de Terras, com seu princípio de compra e venda; Vê-se que os processos de modernização prescinde do homem e gera gentes sobrante e gente em situação de escassez;

(Página 52) – a responsabilidade do Estado brasileiro com a questão agrária, que não se trata unicamente da questão da reforma agrária e ainda nos esclarece sobre os mecanismos complexos da produção da pobreza no país.
“O estado foi profundamente envolvido como gestor dessa política de redistribuição de recursos públicos para o setor privado, de recursos sociais para os setores ricos da população, ricos e poderosos. As características assumidas pelo direito de propriedade no Brasil, sobretudo durante o regime militar, revitalizaram as velhas oligarquias políticas latifundistas e as recolocaram no centro dos mecanismos de poder do país. É o que dá ao Estado brasileiro caráter tão profundamente oligárquico, clientelista e antimoderno”.

O autor entende que os Movimentos Sociais tem a função de colocar os impasses como uma questão política, de denunciar o conflito e a incoerência, de criar o debate e a possibilidade de negociação (diz isso analisando a questão agrária brasileira e a agenda política);

4- O Brasil arcaico contra o Brasil moderno

O autor entende questão social diferente de questão política e chama a atenção para as soluções policiais no lugar da solução social (o que outros, chamam de criminalização);

(Página 59) – a não implicação, afetação com a situação social gera desresponsabilização
“Se o conflito é o conflito do Brasil arcaico e o Brasil moderno, é preciso não esquecer a responsabilidade social das elites e do estado na sua solução. É preciso não esquecer os encargos sociais da modernização. As elites deste país têm demonstrado desde a abolição da escravatura, quando os ex-escravos foram abandonados à própria-sorte e que os trabalhadores e os pobres são considerados residuais e descartáveis”.

5- Mecanismos perversos da exclusão: a questão agrária


(Página 66) – a lógica da terra alimentando a da interdição e da submissão do pobre no Brasil; as alternativas autônomas à submissão, ao sistema hegemônico, são sempre menores, são sempre limitadas. Isso me faz lembrar ao que se orienta de produção de expectativas aos jovens, à inserção no mundo do trabalho. Como se apenas algumas poucos formas hegemônicas de vida, de trabalho, são válidas. São essas que orientam, escolas, projetos educacionais de ONGS. Ou se se produz o alternativo ao hegemônico como esmola ao pobre. À ele só algumas poucas possibilidade. Ao pobre, não cabe criar, inventar formas autônomas e livres desta hegemonia brasileira, que muda a roupagem, mas mantém seu mecanismo duradouro.

“Cessada a escravidão, era necessário criar um mecanismo que tornasse o trabalho nas terras dos fazendeiros o único meio de sobreviver. O direito de propriedade da terra que se implanta no Brasil nesse momento, e em vigência até hoje, tem essencialmente essa finalidade: tornar o trabalho em terra alheia, em terra dos grandes proprietários, o único meio de sobrevivência dos pobres”.

(Página 70) – o impasse histórico: modernidade inconclusa; desenvolvimento econômico excludente; e uma democracia precária e não participativa;
“A nossa modernização tem um estilo próprio: ocorre intensamente na área econômica, até mesmo no campo, sem significativas repercussões no âmbito social e, sobretudo, político. Esse é, ainda hoje, penso, o nosso impasse histórico”.


(Página 72) – a questão são os excedentes populacionais e não as migrações em si
“(...) os homens fazem essa migração temporária e cíclica unicamente para não ser uma boca a mais na casa de origem. Surge, assim, um enorme problema nacional: os excedentes populacionais, a população sobrante, os excluídos, para os quais não existe lugar estável de trabalho e vida, sendo absorvidos pela economia marginal e precariamente”.

(Página 73) – possibilitar a revolução social. A revolução é uma via desta, mas não a única...mas é importante que a promovamos nos diferentes níveis;
“Hoje o mercado de trabalho é muito restrito e seletivo para o volume das massas excedentes de população que estão sendo criadas (...) essa produção de excedentes populacionais cria uma miséria profundamente desumanizadora, que não politiza nem anima a possibilidade da revolução social, antes, a freia”.

(Página 81) – o clientelismo na estrutura da sociedade
“Você pode ir a qualquer lugar do Brasil, para tratar de qualquer assunto, desde problema de saúde até reforma agrária, e, inevitavelmente, encontra pela frente o poder, a presença insidiosa desse pessoal, do político local, do oligarca, que age em função de seus interesses privados e que é incapaz de assumir com impessoalidade as funções sociais do Estado”.

(Página 88) - o imobilismo
“Não há quem se disponha a pensar a necessidade e a urgência dessas transformações. É o que assegura a impunidade dessas elites; elas se sentem seguras de que ninguém irá tirá-las de nossas costas”.

(Página 105) – o cuidado com a restrição da questão social à questão econômica
“É preciso não esquecer que o dimensionamento econômico do mundo moderno, a escala da economia e do lucro, tende a reduzir os problemas sociais à sua dimensão econômica. O capitalismo dos dias de hoje tem soluções econômicas para os problemas sociais que tornam dispensável transformar estes problemas em questões políticas e históricas”.

(Página 114) – sobre o MST
“Só da certo porque a própria população envolvida no movimento está nele, não só porque quer terra, mas também, porque tem um modo de vida como bandeira. Uma mística de como viver, de como o ser humano deve ser”.

(Página 115) “Os movimentos sociais existem enquanto existe uma causa não resolvida. Se o problema se resolve, acaba o movimento. Se ele não se resolve, a tendência é a de que o movimento se institucionalize, se transforme numa organização, como é o caso do MST”.

“À medida que o Movimento dos Sem-Terra questiona o injusto e anti-social regime de propriedade, à medida que, ao reivindicar, cria impasses políticos criativos para os governantes e o Estado, à medida que obriga o Estado, com suas ações concretas de ocupação de terras, de alguma forma, ainda que tangencialmente, a tomar providências protelatórias, a negociar, a fazer reformas tópicas, nessa medida o Movimento questiona o estado oligárquico e latifundista. Assim agindo, o Movimento dos Sem-Terra atua no sentido de democratizar a propriedade da terra e de desimpedir um fator de persistência da mentalidade oligárquica. Nesse sentido ele é essencialmente modernizador, muito mais modernizador do que o capital que se compôs com a grande propriedade fundiária”.

(Página 126) – o possível
“Para Lefebvre, o possível é o eixo da luta e da consciência de quem luta. A utopia é a proposta de uma transformação do mundo alicerçada no possível. A utopia está no residual, está naquilo que não pode ser capturado pelo poder e pelo os que tem poder ”.

6- O significado da criação da comissão pastoral da terra na história social e contemporânea do Brasil


(Página 133) “Eles não conseguiam compreender que os grandes momentos de transformação radical das sociedades humanas tem sido justamente momentos de subversão, em que as relações de poder se invertem, em que os excluídos da participação política passam a ter responsabilidades na condução dos destinos da sociedade inteira”

È importante colocar como princípio a condição humana no cerne das questões sociais; E isso reconhece que (...) os excluídos e os penalizados pela brutalização política e econômica não perdem a sua condição humana com o desenvolvimento capitalista. E por isso, não perdem o direito àquilo que os faz dignos e humanos, que são as condições de sua sobrevivência”. (Página 139)

Resumo sobre "A sociabilidade do homem simples" | Janaina Brito

MARTINS, José de Souza Martins. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história da modernidade anômala. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2008.

de Janaina Madeira Brito Stange


Introdução
(Página 10) – sobre o livro
“Nessa adversidade, a questão é saber como a História irrompe na vida de todo dia. Como, no tempo miúdo da vida cotidiana, travamos o embate, sem certeza nem clareza, pelas conquistas fundamentais do gênero humano; por aquilo que liberta o homem das múltiplas misérias que o fazem pobre de tudo: de condições adequadas de vida, de tempo para si e para os seus, de liberdade, de imaginação, de prazer no trabalho, de criatividade, de alegria e de festa, de compreensão ativa de seu lugar na construção social da realidade.”

Primeira Parte
1- As hesitações do moderno e as contradições da modernidade no Brasil

(Página 18-19) – sobre a modernidade, no Brasil “inconclusa”
“A modernidade, porém, não é feita do encontro homogeneizante da diversidade do homem, como sugere a concepção de globalização. É constituída, ainda, pelos ritmos desiguais do desenvolvimento econômico e social, pelo acelerado avanço tecnológico, pela acelerada e desproporcional acumulação de capital, pela imensa e crescente miséria globalizada, dos que têm fome e sede de justiça, de trabalho, de sonho, de alegria. Fomo e sede de realização democrática das promessas da modernidade, do que ela é para alguns e, ao mesmo tempo, apenas parece ser para todos.”

(Página 26) – “Politicamente, somos de tradição liberal, mas de um liberalismo fundado nas tradições do poder pessoal e do clientelismo político, seus opostos.”

A idéia de que o popular não é um estado puro, ele porta transfigurações; Não há purezas; ele trata a modernidade pelos signos do popular;

(Página 33) – o mascarar
“Portanto, o signo do moderno, mais do que ser moderno. Este é o ponto: parecer moderno, mais do que ser moderno. A modernidade se apresenta, assim, como a máscara para ser vista. Está mais no âmbito do ser visto do que do viver.”

(Página 36) – encolhe, mas não mina de vez
“No fundo, a modernidade exacerbou o imaginário, a capacidade de fabulação, e encolheu a imaginação, a capacidade social de criar saídas e inovações para os problemas. Com isso, ampliou a capacidade social de racionalizar e justificar o injustificável.”

2- O senso comum e a vida cotidiana

(Página 52) – cotidiano
“Se a vida de todo o dia se tornou o refúgio dos céticos, tornou-se igualmente o ponto de referência das novas esperanças da sociedade. O novo herói da vida é o homem comum imerso no cotidiano. É que no pequeno mundo de todos os dias está também o tempo e o lugar da eficácia das vontades individuais, daquilo que faz a força da sociedade civil, dos movimentos sociais.”

(Página 54) – senso comum
“O senso comum é comum não porque seja banal ou mero exterior conhecimento. Mas, porque é conhecimento compartilhado entre os sujeitos da relação social. Nela o significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência. Sem significado compartilhado não há interação.”.

(Página 57) – reprodução social
“A reprodução social, lembrou Lefebvre, mais de uma vez, é reprodução ampliada de capital, mas é também reprodução ampliada de contradições sociais: não há reprodução de relações sociais sem uma certa produção de relações – não há repetição do velho sem uma certa criação do novo, mas não há produto sem obra, não há vida sem História. Esses momentos são momentos de anúncio do homem como criador e criatura de si mesmo.”

(Sobre a transformação do impossível em possível)
“Pois, é no instante dessas rupturas do cotidiano, nos instantes da invisibilidade da reprodução, que se instaura o momento da invenção, da ousadia, do atrevimento, da transgressão. E aí a desordem é outra, como é outra a criação. Já não se trata de remendar as fraturas do mundo da vida, para recriá-lo. Mas de dar voz ao silêncio, de dar vida à História.”

3- A peleja da vida cotidiana em nosso imaginário onírico

“(...) o sonho é, para o homem comum, mas do que sonhar.” (p.60)

(Página 65) – ainda sobre o moderno
“No meu modo de ver, esse desencontro é indicativo da substantiva permanência de referências estruturais comunitárias e tradicionais na base da consciência dos membros de uma sociedade como esta, que realiza de forma imperfeita e incompleta a transição para o mundo racional e moderno. O moderno é, no fundo, apenas tênue carapaça que recobre precariamente as seguranças mais profundas de relações sociais arcaicas.”

4- Apontamentos sobre a vida cotidiana e a História

(Página 85) – vida privada e vida cotidiana são categorias delicadas para a nossa peculiaridade histórica; na modernidade européia a vida cotidiana comporta uma vida privada, que no Brasil se apresente de forma diferente;

“A nossa cultura urbana carnavalesca e exibicionista não favorece o desenvolvimento amplo e profundo da vida privada, a não ser como excrescência, sobretudo porque tem a rua como ponto de reparo. Evidentemente, temos vida privada. Mas, não necessariamente vida privada como um modo de vida que defina um estilo dominante de viver. A diferença entre a rua e a casa é muito sutil em nossa cultura (...) O fato de que, no Brasil, em público as pessoas se comportem como se estivessem em casa, desde o falar alto até o uso do telefone celular como se fosse um brinco ou um anel, constitui um indício forte da precariedade da vida privada entre nós.”

(Página 90) – a cotidianidade, uma outra temporalidade; um tempo em que o homem é o que vive e não o que pensa viver; campo da ação, por isso uma noção que ligamos à vida comunitária e seus arranjos na lida com a vida;
“O tempo do homem subjugado pela coisa, tempo em conflito com o tempo do homem que subjuga a coisa. Por isso, o cotidiano se transfigura na gestação da cotidianidade. Neste novo momento, a vida cotidiana se torna um modo de viver sem estilo. É o tempo do homem sem qualidade, mergulhado numa historicidade nova, tempo do homem desencontrado consigo mesmo, que se torna produto de seu produto, transfigurado de sujeito em objeto, em contradição com as características próprias da vida privada, que é determinada pelo tempo do sujeito. Momento em que aquilo que faz não é necessariamente aquilo que pensa estar fazendo.”

(Página 94) – a cotidianidade é uma noção não-burguesa;
“Para a burguesia (e sua consciência privada) o cotidiano é irrelevante. Para os que se inquietam com os bloqueios das promessas da História, da redenção do Homem, da constituição da universalidade do homem, o cotidiano é relevante, pois é fonte desse bloqueio e lugar da busca das possibilidades da História. Não por acaso, o possível, isto é, o propriamente histórico, aparece como não residual, como não capturado pelo repetitivo. A cotidianidade não é, nem pode ser, vaga substantivação de uma adjetivo da moda (...) Ela é o momento da história que parece dominado pelo repetitivo e pelo o que não tem sentido.”

(Página 95) – “É nas tensões do vivido que tem lugar o encontro/desencontro da vida cotidiana com a vida privada, e da vida cotidiana com a História.”
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5- Excurso: As temporalidades da História na dialética de Henri Lefebvre

(Página 101) – as relações sociais sobrevivem de deferentes momentos históricos
“Porém, a lei da formação econômica-social é a lei do desenvolvimento desigual: “Ela significa que as forças produtivas, as relações sociais, as superestrutura (políticas e culturais) não avançam igualmente, simultaneamente, no mesmo ritmo histórico.”

(Página 103) – o homem reproduz e produz
“O homem age sobre a natureza na atividade social de atender suas necessidades. Constrói relações sociais e concepções, idéias, interpretações, que dão sentido àquilo faz e àquilo de que carece. Reproduz, mas também produz, insto é, modifica, revoluciona, a sociedade, base de sua atuação sobre a natureza, inclusive sua própria natureza. Ele modifica, edifica sua humanidade, agindo sobre as condições naturais e sociais de sua existência, e nesse movimento, sobre as condições propriamente econômicas.”

(Sobre a pobreza)
“A pobreza, nesta reinterpretação de Lefebvre, ganha um significado bem diverso da concepção limitada de pobreza material que era característica da época de Marx. A pobreza é pobreza de realização das possibilidades criadas pelo próprio homem para sua libertação das carências que o colocam aquém do possível.”

(Página 107) – para a transformação
“Para isso é preciso juntar os fragmentos, dar sentido ao residual, descobrir o que ele contém como possibilidade não realizada.”

Segunda Parte
1- História e Memória

(Página 117) – sobre a história Local
“A história local é certamente um momento da História, mas momento no sentido expressão particular e localizada das contradições históricas. (...) É no âmbito local que a História é vivida e é onde, pois, tem sentido para o sujeito da História.”

(Página 119) – sobre sua opção metodológica
“(...) pretende e espera trazer para as ciências sociais a realidade de um mundo ocultado pelas grandes categorias explicativas e pelas grandes abstrações, aquilo que nem sempre tem tido visibilidade no trabalho científico, o drama e a trama da sociabilidade dos simples. Há nisso uma proposta metodológica e teórica: observar a sociedade a partir da margem, do mundo cinzento daqueles aos quais as contradições da vida social deram a aparência de insignificantes e que como insignificantes são tratados pela ciência. E, no entanto, se movem....”

(Página 127) – sobre a memória
“A reconstituição histórica que incorpore os dados da memória implica em reformular a concepção de História, mediante a incorporação de outras temporalidades, diversa daquelas que marcam o tempo reconhecido da História. Mediante, também, a incorporação dos pequenos acontecimentos da vida cotidiana e a das concepções de senso comum que mediatizam a inserção do homem comum nos processos históricos. (...) A memória não é um substituto do documento escrito, mas é reveladora de realidades que não estão registradas neste tipo de documento.”

2- Por uma sociologia sensível


(Página 148) – Revolução social, que o subúrbio também faz
“Todo ato de luta contra pobreza, contra a exploração de quem trabalha, contra privação de vida e dignidade, é um ato em favor da mudança na vida, é um ato revolucionário. De modo que o novo e a inovação se põem diante da cada um de nós de diferentes modos e sob diferentes temas. A responsabilidade da História é responsabilidade de diferentes sujeitos históricos e não de um só. Portanto, as possibilidades da História e do novo não estão só nem principalmente no subúrbio, mas também estão lá, de um modo específico.”

(Página 158) – legitimidade é diferente de legalidade
“Numa sociedade em que os códigos, as leis e o direito são de inspiração iluminista e respondem a concepções européias das elites, não tendo, portanto, qualquer raiz nas tradições e na cultura do povo, e povo daqui, com o peso de uma história social singular, que teve escravidão e chibata, é previsível um grande e significativo desencontro entre legitimidade e legalidade.”

A dimensão da Luta, para Martins, surge para ser considerado, reconhecido, ouvido, incluído...de fato, para que uma política pública por exemplo, seja democratizada.