quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Abecedario de Gilles Deleuze.


O Abecedário de Deleuze, como é chamado, configura-se uma série de temas/questões que seguem a ordem das letras do abecedário francês. Tais questões foram feitas por Claire Parnet, em 1988, a Gilles Deleuze e registradas em vídeo. E conforme acordado, divulgadas somente após sua morte.
Quanto ao vídeo, é possível ter acesso a ele através do You Tube, porém em fragmentos, ou seja, uma letra/tema está dividida em partes. Encontra-se também no site agitkom.net.
As letras conferem os seguintes temas:
A de Animal
B de Beber
C de Cultura
D de Desejo
E de Enfance [Infância]
F de Fidelidade
G de Gauche [Esquerda]
H de História da Filosofia
I de Idéia
J de Joie [Alegria]
K de Kant
L de Literatura
M de Maladie [Doença]
N de Neurologia
O de Ópera
P de Professor
Q de Questão
R de Resistência
S de Style [Estilo]
T de Tênis
U de Uno
V de Viagem
W de Wittgenstein
X de Desconhecido
Y de Indizível
Z de Ziguezague

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A VIDA COMO OBRA DE ARTE: PRÁTICAS E INTERFERÊNCIAS


Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia - ICHF
Programa de Pós-Graduação em Psicologia


A VIDA COMO OBRA DE ARTE: PRÁTICAS E INTERFERÊNCIAS

DATA: 13 e 14 de novembro de 2008.
LOCAL: Auditório ICHF, 2º andar, Bloco O – Campus Gragoatá - UFF


P R O G R A M A Ç Ã O


DIA 13/11 – QUINTA-FEIRA

9:30 – 10:00 - ABERTURA OFICIAL DO EVENTO
Cristina Rauter (Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFF)
Silvia Josephson (Chefe do Departamento de Psicologia da UFF)
Francisco Palharini (Diretor do ICHF)

10:00 – 12:00 – IMAGEM E SUBJETIVIDADE
Luiz Antonio Baptista - UFF
Consuelo Lins – cineasta e professora da ECO - UFRJ
João Jardim – cineasta
Luame Cerqueira - UERJ

12:00 – 14:00 - Intervalo para almoço

12:30 – 16:00 – Oficinas
Programação
Inscrições p/ oficinas acontecerão no dia e local


16:00 – 18:00 – INSTITUIÇÕES, GRUPOS E SUBJETIVIDADES
Maria Lívia Nascimento- UFF
Teresa Cristina Carreteiro - UFF
Claudine Blanchard-Laville – Université Paris Ouest Nanterre La Défense
Laurence Gavarini - Université de Paris VIII

18:00 – LANÇAMENTOS DE LIVROS
– Consultar o site: www.slab.uff.br



DIA 14/11 – SEXTA-FEIRA

10:00 – 12:30 – SAÚDE, VIDA E TRABALHO
Hélder Muniz - UFF
Eduardo Passos - UFF
Claudia Osório - UFF
Milton Athayde - UERJ
Maria Elizabeth Barros - UFES

12:30 – 14:00 - Intervalo para almoço

14:00 – 16:00 - Oficinas
Programação
Inscrições p/ oficinas acontecerão no dia e local


16:00 – 18:30 – ARTE E CORPO
Ruth Torralba - mestranda UFF
Márcia Moraes - UFF
Eduardo Lociser - psicanalista
Elizabeth Pacheco - doutoranda PUC-SP
Luiz Fuganti – Escola Nômade/SP


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Comissão Organizadora do Evento:

Alice de Marchi P. de Souza
Ariadna Patricia Alvarez
Cristiane Knijnik
Donati Caleri
Gustavo Duarte de Almeida
Lindomara Gomes Silva
Maria Lívia do Nascimento
Ruth Torralba Ribeiro
Sandro Rodrigues

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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pensando sobre a Sociologia da Violência | Thiago Mansur

SOCIOLOGIA DA VIOLÊNCIA
De Thiago Sandrini Mansur

Quatro conclusões sobre a “acumulação social” da violência na sociedade brasileira: uma reflexão sobre a sociologia de Michel Misse.

1ª Conclusão: A violência é produto de relações sociais concretas construídas historicamente. Isso significa dizer que a acumulação social da violência é um processo heterogêneo e não-linear; é a partir das transformações históricas, ora com suas rupturas ora com suas continuidades, que a violência adquire forma. Acredito que a evidência disso é a ênfase investida pelo sociólogo Michel Misse (2006) em questões como: (a) “as tradições do banditismo urbano no Rio”: se fica claro que não há identidade entre as figuras do malandro, do marginal e do vagabundo, também se percebe que entre um e outros existem certas semelhanças, como se, apesar da descontinuidade, o “imaginário social” fizesse com que a fronteira entre eles fosse suavizada. Não há identidade nem continuidade entre as maltas de capoeiras e os malandros, do mesmo modo entre estes e a figura do marginal, por exemplo. Cada contexto histórico forma suas próprias figuras. (b) Em conseqüência dessa questão, há diferenças entre os modos de expressão da violência e da criminalidade nos distintos momentos históricos. Dessa forma, o autor mostra inúmeras divergências entre, por um lado, o modo de funcionamento do jogo do bicho e das mercadorias políticas que lhe eram correlatas e, por outro, constituição do “movimento” do tráfico de drogas. Apesar disso, Misse (2006) não nega que, em certos momentos, houvesse convergência entre ambos, como na questão da busca pela delimitação de territórios. Assim, “banqueiros” do jogo do bicho e “gerentes” do tráfico buscavam, cada um à sua maneira e de acordo com seu contexto histórico, delimitar seus espaços (territórios) de atuação. Misse também mostra diferenças entre a constituição do tráfico da maconha e o da cocaína. A formação das redes de tráfico de cocaína – cuja demanda foi produzida a partir da fixação de alguns portos brasileiros como rota internacional de drogas, a partir das décadas de 1970 e 1980 – utilizou como base as redes de movimento da maconha, já constituídas há pelo menos meio século antes. Entretanto, o significado social dessas redes de movimento foi tomando sentidos diferentes ao longo da história.
2ª Conclusão: A violência é vista sob o aspecto econômico-político. A violência, portanto, está intimamente relacionada com as formas de dominação produzidas/reproduzidas historicamente pelas relações sociais concretas. Daí o motivo do autor pensar a violência como uma mercadoria política, melhor dizendo, a violência como prática de dominação que engendra valiosos mercados – o mercado da segurança privada formal e informal, legal e ilegal, por exemplo. Forma-se uma verdadeira prática de gestão das relações sociais através da violência. A partir do que o autor propõe em seu texto, concluímos que não se trata somente de uma economia de mercado, há que se pensar, também, em uma economia subjetiva, isto é, que os indivíduos produzam e reproduzam cotidianamente a violência em suas relações em sociedade. Desse modo, o autor forja o conceito de mercadoria política para explicar a constituição da violência nas relações. Entendo por mercadoria todo produto do trabalho humano realizado em uma sociedade cujo valor pode ser comparado e trocado por um outro trabalho humano, diferente deste primeiro. Um casaco é uma mercadoria, pois é produto do trabalho humano, assim como a proteção, seja formal ou informal, lícita ou ilícita (fornecida pelo Estado, por traficantes ou por uma milícia armada). Com relação ao termo ‘político’, Misse faz questão de salientar que usa tal acepção no sentido amplo de relações de força e poder. Portanto, a mercadoria política seria assim definida pelo autor:
Há um mercado informal cujas trocas combinam especificamente dimensões políticas e econômicas, de tal modo que um recurso (ou um custo) político seja metamorfoseado em valor de troca. O preço das mercadorias (bens ou serviços) desse mercado, por ganhar a autonomia de uma negociação política, passa a depender não apenas das leis de mercado, mas de avaliações estratégicas de poder, de recurso potencial à violência e de equilíbrio de forças, isto é, de avaliações estritamente políticas. Para distinguir a oferta e demanda desses bens e serviços daqueles cujo preço depende fundamentalmente do princípio de mercado, proponho chama-los de ‘mercadorias políticas’ (Misse, 2006, p. 206).

E mais adiante, o autor conclui sendo enfático ao afirmar que toda mercadoria política produz um jogo de dominação:
Proponho, em resumo, chamar de ‘mercadoria política’ toda a mercadoria que combine custos e recursos políticos (expropriados ou não do Estado) para produzir um valor-de-troca político ou econômico (Misse, 2006, p. 209).

3ª Conclusão: O significado da expressão “acumulação social da violência”. Conforme discutido na primeira conclusão a violência não é algo que surge do nada, ao contrário, ela é produto das relações sociais concretas. De acordo com a segunda conclusão, as relações são concretas porque são produzidas historicamente por indivíduos em sociedade: seja ao longo do desenvolvimento histórico, seja em uma época determinada. Há uma acumulação social da violência porque ela é produzida e reproduzida historicamente pelas relações entre os indivíduos em sociedade. Isso mostra o quanto o fenômeno da violência e da criminalidade não é natural, pondo-se em questão sua banalização. Embora a violência permeie, em maior ou menor grau, o desenvolvimento histórico de todas as sociedades, esta relação se constitui com suas particularidades em cada época determinada e em cada sociedade específica. Isto significa dizer que o que determinada sociedade chama de violência não está desvinculado das condições materiais de sua existência.
4ª Conclusão: Trata-se de desterritorializar a violência, isto é, retirar seu lócus da favela ou de determinados bairros/regiões da cidade. Como na música da banda carioca O Rappa:
“O gueto também ilude e seduz com o poder da cocaína,
Que comanda o sucesso nas bocas-de-fumo da esquina,
Mas a favela não é mãe de toda dúvida letal,
Talvez seja de maneira mais direta e radical,
O sol que assola esses jardins suspensos da má distribuição...”
(Catequese do Medo, O Rappa, 1994)

A violência é analisada por sua capacidade de disseminação pelo tecido social, não se concentrando apenas nas favelas (e guetos). Se, por um lado, Misse aponta que a constituição das redes de tráfico de drogas se dá principalmente nas favelas e conjuntos habitacionais do Rio de Janeiro, por outro, ele também evidencia que a criminalidade e a violência não se restringem a essas regiões. Desse modo, a circulação de mercadorias políticas (de proteção e segurança, por exemplo) que alimentam e reproduzem a violência não se situa nas favelas e bairros de periferia. De acordo com essa lógica, há que se pensar nas situações em que os agentes do Estado se apropriam ilegalmente de recursos políticos monopolizados pelo Estado visando à obtenção de vantagens particulares e nos crimes do colarinho branco. Além disso, mesmo nos momentos onde o Estado atua como órgão perpetrador de violência com amparo legal, em minha opinião, ela nunca é legítima. Não se trata somente de pensar a violência como sendo possível de ser localizada em algum lugar ou algum sujeito. Por mais que o indivíduo seja aquele que incorpora a violência através de seus atos e por mais que o índice de homicídios (por exemplo) esteja apontando para um determinado bairro ou região, eles são apenas expressões de relações de dominação, não são fatos. Nesse sentido, penso que os indivíduos não detêm a violência e aplicam-lhe sobre os outros, que seriam suas vítimas; os indivíduos são produtos de relações sociais permeadas e constituídas historicamente pela e na violência. A vítima nasce junto com o algoz.

Referências Bibliográficas
BARROS, Regina Duarte Benevides de; RAUTER, Cristina; PASSOS, Eduardo. Clínica e política: subjetividade e violação dos direitos humanos. Rio de Janeiro: IFB/Te Cora, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Ética e violência. Revista Teoria em Debate, São Paulo, n. 39, outubro/dezembro 1998. Disponível em http://www2.fpa.org.br/portal. Acesso em 26/10/2007.
___________. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2003.
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUSS, R. ; RABINOW, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
___________. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MISSE, Michel. Crime e violência no Brasil contemporâneo. 2006. pp. 137-300.
YUKA, Marcelo. Catequese do medo. In: O Rappa. O Rappa. Rio de Janeiro: Warner Music, 1994. 1 CD, faixa 1. Produção: Fábio Henrique.
WIEVIORKA, M. Para compreender a violência: a hipótese do sujeito. In: WIEVIORKA, M. Em que mundo viveremos. São Paulo: Perspectiva, 2006, pp. 201-223.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Resumo "Quando novos personagens entraram em cena" | Janaina Brito

SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências e lutas dos trabalhadores da grande São Paulo 1970-1980. 4.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.


De Janaina Madeira Brito Stange


Prefácio – Marilena Chauí
Eder Sader mostra como os movimentos sociais produzem um novo sujeito; um sujeito coletivo; um sujeito diferente do moderno que é um sujeito individualista e racional; Sader mostra o “cotidiano popular”, novos lugares para o exercício da política;
(Página 12) - “Que são as migalhas das pequenas das pequenas vitórias das pequenas lutas? São as experiências que os excluídos adquirem de sua presença no campo social e político, de interesses e vontades, de direitos e práticas que vão formando uma história, pois seu conjunto lhes ‘dá a dignidade de um acontecimento histórico’”.

Apresentação – questões que ajudam na organização do método;
Sader entende que estudar o cotidiano é entender um certo alargamento da política; Qual o objeto da pesquisa? Qual a questão da pesquisa? Quais os caminhos da pesquisa?

Cap. 1 – Idéias e Questões
Qual é a linguagem dos MS? De que lugares falam? Que valores defendem? Qual é a originalidade do fenômeno? O MS é uma firmação de setores da sociedade.
Neste capítulo ele organiza suas referências teóricas, também quanto à valorização do discurso, para escuta e análise;

(Página 29) – falando da função dos MS
“Nessa representação a luta social aparece sob forma de pequenos movimentos que, num dado momento, convergem fazendo emergir um sujeito coletivo com visibilidade pública.”

(Página 41) – “O fato é que, pretendendo explicar movimentos sociais por determinações estruturais, os analistas chegam a impasses insolúveis.”

(Página 48) – os MS e o que sinalizam quanto às condições das classes no Brasil
“A constituição dos movimentos sociais implica uma forma particular de elaboração dessas condições (elaboração mental enquanto forma de percebê-la, mas também elaboração prática enquanto transformação dessa existência). Nesse sentido, movimentos sociais operam cortes e combinações de classe, configurações e cruzamentos que não estavam dados previamente.”

Cap. 2 – Sobre as experiências da condição proletária em São Paulo
Sader nos apresenta como as migrações são fenômenos associados às condições de trabalho e nada é pejorativo neste sentido; o desafio que se instala é como os migrantes se assentam nos novos espaçamentos sociais? as migrações para a cidade é sinal de modernidade; sinal logo de desenraizamento;

(Página 110) – estar em desvantagem na relação de poder, não significa entender o popular como idiota; é preciso, antes de fazer colagens interpretativas, se empenhar na tentativa de ouvi-los sobre as aparentes contradições e mascaras que possam eventualmente portar;
“Ou seja, os “manipulados” também “manipulam”. Através da absorção de padrões dominantes eles expressam algo de suas vontades e seus sonhos e é exatamente isso que é necessário saber ouvir”.

(Página 115) – a existência dos MS se relacionam com esta dimensão política-participativa; com uma dimensão da sociabilidade, do encontro social; e com a dimensão humana, de se fazer ouvir em seus anseios e impasses;
“Assistimos tanto ao fechamento de espaços públicos de manifestação política quanto ao fechamento de espaços públicos de convivência social, por onde se coletivizavam experiências sem incidência direta na institucionalidade política.”

Cap. 3 – Matrizes Discursivas – são modos de abordagem da realidade
Também os ANALISADORES podem ser entendidos como modos de abordagem da realidade;

(Página 141) - sobre o cotidiano
“Mas o cotidiano não pode ser pensado como um lugar mítico onde, em sua pureza, os pobres se apresentam como são, libertos de ideologias estranhas. Melhor vê-lo em sua ambigüidade de “conformismo e resistência”, expresso na “consciência fragmentada” da cultura popular.

Questões: Os Projetos Sociais são uma resposta a quê? (Gênese); quais suas ideologias? Quais suas práticas? O que os Projetos Sociais anunciam?

Os movimentos populares nem sempre se ancoraram nos argumentos da democracia, até porque eles existem anteriormente a este regime. Logo pode encontrar na democracia uma força argumentativa, mas eles, antes, sinalizam outras forças – que aí entra meu entendimento do humano;
Neste capítulo Sader analisa os movimentos sindicais, a igreja, e os movimentos populares de bairro; como achei uma analise local, vale o estudo, mas não recolhi citações que se fizessem generalizáveis;

Cap. 4 – Movimentos Sociais
(Página 199) – sobre os MS na década de 70
“Os movimentos sociais tiveram de construir suas identidades enquanto sujeitos políticos precisamente porque elas eram ignoradas nos cenários públicos instituídos. Por isso mesmo o tema da autonomia esteve tão presente em seus discursos. E por isso também a diversidade foi afirmada como manifestação de uma identidade singular e não como sinal de uma carência.”

(Página 215) - “(...) o movimento vai tecendo uma ligação entre o mundo do cotidiano e o mundo da política”.

(Página 216) – a noção de conquistas diferindo da noção de resultados, atuais nas ONGS; isto mostra a diferenciação do protagonismo social; Com as ONGS, na maioria das vezes, os atores são outros, a noção de crescimento também é de outra escala valorativa;
“Os movimentos cresciam em cima das conquistas obtidas (...)”.

(Página 221) – sobre o clube das mães da periferia de SP, como ocorre transformação, movimentos;
“De uma experiência coletiva emergia uma nova idéia de política. Essa nova idéia não lhes veio já elaborada, e as elaborações até então instituídas não lhes serviam. A palavra “política” vinha carregada de conotações que elas rechaçavam. A nova idéia de política estava sendo criada (e a criação desse novo discurso era também a criação de novos sujeitos coletivos)”.

(Página 222) – desnaturalização das condições de vida
“E, ao valorizarem a sua participação na luta por seus direitos, constituíram um movimento social contraposto ao clientelismo característico das relações tradicionais entre os agentes políticos e as camadas subalternas.”

(Página 250) – sobre o sujeito coletivo que é o sindicato
“É nesse quadro que as lutas fabris são assumidas como momentos de auto-afirmação de grupos operários, que vêem nelas o processo de sua constituição como sujeitos políticos. Mas essa atribuição de sentido não pode ser vista como se fosse o ato soberano de um sujeito racional. Ela se realiza no confronto entre diversos agentes – que atribuem significados diversos aos acontecimentos – e no jogo de situações concretas, onde tais significados ganham contornos imprevistos.”

O estudo sobre os sindicatos mostram como é preciso fazer confrontar as for;as motivadoras dos conflitos e os processos institucionalizados;

(Página 275) – sobre o controle da saúde feito pela população
“Mas a maioria viu aí uma forma de aumentar o poder da própria população e, com isso, incidir sobre as relações políticas. Era um outro modo de fazerem a população participar da política, porque não se referia a temas abstratos e uma representação institucional, mas a uma participação direta a partir de um tema concretamente vivido.”

(Página 280) – sobre o sindicado, que será extensivo às ONGS?
“A verdade é que a diretoria eleita esforçou-se para que o sindicato fosse assumido pelos trabalhadores como um órgão de luta e não somente como uma sede com seus serviços assistenciais.”

(Página 299) – o movimento é uma fala
“É evidente que o sindicato não foi estranho às greves que eclodiram em maio. Eram freqüentes as referências de seus dirigentes e assessores a uma greve como única forma de obrigar os empresários a ouvir os reclamos de seus empregados.”

Algumas considerações finais

(Página 313) – as classes populares e os MS
“As classes populares se organizam numa extrema variedade de planos, segundo o lugar de trabalho ou de moradia, segundo algum problema específico que os motiva ou segundo algum princípio comunitário que as agrega.”

“Os movimentos sociais não substituem os partidos nem podem cancelar as formas de representação política. Mas estes já não cobrem todo o espaço da política e perdem sua substância na medida em que não dão conta dessa nova realidade.”

“Apontaram no sentido de uma política constituída a partir das questões da vida cotidiana. Apontaram para uma nova concepção da política, a partir da intervenção direta dos interessados. Coloram a reivindicação da democracia referida às esferas da vida social, em que a população trabalhadora está diretamente implicada: nas fábricas, nos sindicatos, nos serviços públicos e nas administrações dos bairros.”

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

SELEÇÃO | MESTRADO PSICOLOGIA INSTITUCIONAL | 2008/2009

Data: 1º outubro à 27 de outubro de 2008
Local: UFES | CEMUNI de Psicologia | (027)4009-7643
[+] info: www.ufes.br | www.prppg.ufes.br/ppgpsi
.:::. Textos disponíveis na pasta "Seleção 2008/2009 PPGPSI", na xerox Centro de Vivência (próximo ao Cine Metrópolis)

domingo, 5 de outubro de 2008

Nota de rodapé | Juan Pereira

Por que o conceito - a questão do conceito – tanto nos embaraça?

Introdução


Vejamos o que ocorre no lugar (situs) onde eles costumam aparecer. Seria na filosofia como é o costume. 1

Ora, direis: -“Em que a psicologia científica relaciona-se ou bem com a filosofia ou bem com as matemáticas modernas?” No caso, a Geometria Analítica cartesiana. Pelo contrário, causa certa repulsa ao homem de psicologia ter que lidar com as matemáticas. Ou com o discurso segundo o costume dos geômetras – os matemáticos.

Dizemos que nos custou tempo, autores, outro tanto de carne humana para desembarçarmos da filosofia para que ela agora re-apareça na cena?

Esta cisão foi percebida.
De modo algum pela fragilidade argumentativa de historiadores – quer ele (o historiador) adotasse mais empirismo, menos ou mais racionalismo e a plêiade de quaisquer outras posições filosóficas – justamente.
A exceção é – historicamente datada - do muito digno nome de Wilhelm Maximilian Wundt para os títulos de nobreza científica da dita psicologia, para honra e glória das ciências denominadas de hard - no anglicismo hard sciences.

Esta cisão produziu o quadro de miserabilidade atual da Psicologia.

É seguro que a Psicologia – tal como praticada e teorizada - gerou algum conceito?

No que se segue me apoiei na justa, legítima e sacrossanta fúria do filósofo Gilles Deleuze contra os inexoráveis axiomas do capitalismo – permitam-me. [ver 6. João de Patmos, pp.45-63, Crítica e Clínica na tradução de Pelbart. 1993-1997]

Pode-se estabelecer – com certa clareza e equilíbrio instável – um modo mínimo e razoável de tratar a Questão do Conceito, em três tempos: filosofia, poieisis, 2 pensamento.

Tal como neste momento:

“A filosofia não é comunicativa, nem contemplativa ou reflexiva: ela é, por natureza, criadora ou mesmo revolucionária na medida em que não cessa de criar novos conceitos. A única condição é de que eles tenham uma necessidade, mas também uma ‘estrangeiridade’, e eles as têm na medida em que correspondem a verdadeiros problemas. O conceito é o que impede o pensamento de ser uma simples opinião, um conselho, uma discussão, uma conversa (itálicos meus).” 3

São três laços - entrelaçamentos e seus enraizamentos - que insistem e subsistem desde que haja palavra posto que seja próprio do conceito impedir o fluxo alucinado da deriva incessante do pensamento.
Onde? Na Ágora da Doxa e na hemorragia infinda das imagens. Impedir o fluxo do delírio – quer queiram ou não, dos significantes – no espaço aberto da opinião, do senso comum.

Assim: “O conceito é forçosamente um paradoxo”(idem). De outro lado é forçoso admitir que a posição do conceito no discurso da ciência é bem outra, supondo-se que o mínimo de paradoxo seja que “(...) em primeiro lugar ele destrói o bom senso como sentido único (...)[DELEUZE, G. Lógica do sentido p. 3]”. Dado que este é o primeiro passo nos manuais de epistemologia – decerto um bocado depauperante.

Ainda, que o conceito comporte a dimensão do afeto e do percepto é de uma especificidade tal que a Prudência clama manter-nos somente no plano da palavra.
Mas qual via devemos tomar?
Sem equívocos:

“(...) O factício e o simulacro se opõem no coração da modernidade, no ponto em que esta acerta todas as suas contas, assim como se opõem dois modos de destruição: os dois niilismos. Pois há uma grande diferença entre destruir para conservar e perpetuar a ordem restabelecida das representações, dos modelos e das cópias e destruir os modelos e as cópias para instaurar o caos que cria, que faz marchar os simulacros e levantar um fantasma — a mais inocente de todas as destruições, a do platonismo. (itálicos meus....)” DELEUZE, G., Lógica do sentido p. 271]

Se assim é, então, há um axioma que prima pela simulação, mimetismo e logro - o Amor – que da suma teológica de São Tomas de Aquino passando por Santo Agostinho, entre platônicos e aristotélicos - siderou o pensamento filosófico-religioso de corte cristianizado.
Prefiro, hoje, estar com Spinoza ao lado de Deleuze. 4
–“Dizeis então que devemos temer Deus?”
Ora, caso contrário desmorona nossa humilde participação em La Pensée-Deleuze – escrito assim com todas as letras por Fanny Deleuze e Richard Pinhas em algum lugar.
Quão dessemelhante, meu Deus.
...............................
PRÓLOGO

Este conjunto de textos, dos quais alguns são inéditos, outros já publicados, organiza-se em torno de determinados problemas. O pro¬blema de escrever, o escritor, como diz Proust, inventa na língua uma nova língua, uma língua de algum modo estrangeira. Ele traz à luz novas potências gramaticais ou sintáticas. Arrasta a língua para fora de seus sulcos costumeiros, leva-a a delirar. Mas o problema de escre¬ver é também inseparável de um problema de ver e de ouvir: com efeito, quando se cria uma outra língua no interior da língua, a linguagem inteira tende para um limite "assintático", "agramatical", ou que se comunica com seu próprio fora.
O limite não está fora da linguagem, ele é o seu fora: é feito de visões e audições não-linguageiras, mas que só a linguagem torna pos¬síveis. Por isso há uma pintura e uma música próprias da escrita, como efeitos de cores e de sonoridades que se elevam acima das palavras. É através das palavras, entre as palavras, que se vê e se ouve. Beckett falava em "perfurar buracos" na linguagem para ver ou ouvir "o que está escondido atrás". De cada escritor é preciso dizer: é um vidente, um ouvidor, "mal visto mal dito", é um colorista, um músico.
Essas visões, essas audições não são um assunto privado, mas formam as figuras de uma história e de uma geografia incessantemente reinventadas. É o delírio que as inventa, como processo que arrasta as palavras de um extremo a outro do universo. São acontecimentos na fronteira da linguagem. Porém, quando o delírio recai no estado clínico, as palavras em nada mais desembocam, já não se ouve nem se vê coisa alguma através delas, exceto uma noite que perdeu sua histó¬ria, suas cores e seus cantos. A literatura é uma saúde.
Esses problemas traçam um conjunto de caminhos. Os textos aqui apresentados, e os autores considerados, são tais caminhos. Uns são curtos, outros mais longos, mas eles se cruzam, tornam a passar pelos mesmos lugares, aproximam-se ou se separam, cada qual oferece uma vista sobre outros. Alguns são impasses fechados pela doença.
Toda obra é uma viagem, um trajeto, mas que só percorre tal ou qual cami¬nho exterior em virtude dos caminhos e trajetórias interiores que a compõem, que constituem sua paisagem ou seu concerto.
Crítica e Clínica

1 De bom grado eu apostaria alguma coisa em dois acontecimentos – pelo menos: Descartes e sua Geometria Analítica – Apêndice ao seu Discurso Sobre o Método. Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences (discurso do método para bem conduzir sua razão e buscar a verdade nas ciências ). Estou enfatizando o termo discurso, de ocorrência comum no século XVII. Mais recentemente - na minha experiência - Spinoza em Ethica More Geometrico Demonstrata – Ética demonstrada segundo o costume geométrico.
2 Houaiss: pospositivo, do gr. poíésis,eós 'criação; fabricação, confecção; obra poética, poema, poesia', através do lat. poésis,is 'poesia, obra poética, obra em verso'; ocorre em cultismos dos XIX em diante, como galactopoese, hematopoiese/hematopoese, leucopoiese/leucopoese, onomatopoese; os subst. assim formados fazem adj. em –ico: galactopoético, hematopoiético/hematopoético, leucopoiético/leucopoético, onomatopoético; ver poet-
3 DELEUZE, G. in SIGNOS E ACONTECIMENTOS, Entrevista realizada por Raymond Bellour e François Ewald “Magazine Littéraire” nº 257, set./1988. Carlos Henrique de Escobar (ORG.) DOSSIER DELEUZE, HÓLON EDITORIAL. 1991. p. 9.
4 Sem jamais sequer mencionar a questão judaica. Tema caro às estranhas formas de religiosidade que hoje testemunhamos. Confira o cinemático amante etílico Mel Gibson, e seu A Paixão de Cristo.